No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
[…]
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos.
[…]
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te rosas.
Poema de Eugénio de Andrade com imagem de David Hockney.
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