O burro do presépio
Sou versado em pouca coisa
mas burro é que eu não sou;
entre os bichos do presépio
eu sei sempre onde é que estou.
Se era preciso calor
e uma terna companhia,
ali estava eu presente
enquanto o menino nascia.
Como não sou adivinho
nem sequer mestre em magia,
quem esse menino era
eu ao certo não sabia.
Filho de gente modesta
tinha um brilho no olhar
que era só comparável
ao das noites de luar.
Velando pelo seu sono,
sem o deixar despertar,
eu ficava de atalaia
evitando até zurrar.
Sem que saiba bem o quê,
qualquer coisa me fez pensar
que essa noite em Belém
o mundo iria mudar.
Mal sabia nessa altura
num lugar de escassa luz,
que essa criança, afinal,
era o Menino Jesus.
Poema de José Jorge Letria
Pintura de Martin Schongauer (1448-1491)
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